Lula entra em campo para proteger Jorge Messias e evitar derrota histórica no Senado
O Palácio do Planalto vive dias de tensão crescente à medida que a indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União, ao Supremo Tribunal Federal (STF) enfrenta forte resistência no Senado. O governo teme que Messias — considerado um dos nomes mais próximos e leais ao presidente Lula — seja rejeitado pela Casa, o que configuraria uma derrota inédita para a gestão petista e causaria um abalo político de grandes proporções.
Diante desse cenário, Lula e sua equipe passaram a atuar pessoalmente para conter danos, reorganizar alianças e impedir que a crise se agrave. A ordem interna é clara: preservar Messias a qualquer custo, blindá-lo das pressões externas e evitar que ele seja exposto na CPI mista do INSS, onde parlamentares da oposição querem ouvi-lo em meio às investigações sobre um suposto esquema bilionário de descontos ilegais aplicados a aposentados e pensionistas.
CPI do INSS: epicentro da crise
O principal foco de preocupação do governo é o avanço da CPI do INSS, que investiga uma organização acusada de desviar recursos de beneficiários por meio de cobranças irregulares associadas a sindicatos e entidades diversas. O advogado-geral da União entrou no radar da oposição após ser acusado de supostamente ter protegido o Sindinapi, sindicato cujo vice-presidente é Frei Chico, irmão de Lula.
Procuradores federais teriam enviado à AGU, em 2024, um documento alertando sobre o acúmulo de queixas envolvendo descontos indevidos — e citando diretamente o Sindinapi como uma das entidades mais mencionadas pelos aposentados lesados.
Os críticos afirmam que a AGU deveria ter pedido o bloqueio imediato dos recursos do sindicato, como costuma ocorrer em investigações semelhantes. Para eles, a ausência dessa ação seria uma tentativa deliberada de blindar a entidade e, por consequência, preservar a imagem do irmão do presidente.
Jorge Messias, por sua vez, nega qualquer irregularidade e sustenta que sua atuação seguiu estritamente critérios técnicos e jurídicos.
Declarações que incendiaram o debate
Em maio deste ano, durante participação no programa “Bom Dia, Ministro”, Messias afirmou que a CPI poderia dificultar o ressarcimento às vítimas do esquema dos descontos ilegais. A frase caiu como uma bomba entre os parlamentares da comissão, que passaram a enxergar a posição do advogado-geral como uma tentativa de desqualificar a investigação.
O atrito culminou em um requerimento para convocá-lo a depor. A votação desse pedido, marcada inicialmente para a última quinta-feira, acabou sendo adiada, mas a oposição promete retomá-la no próximo dia 4. A tendência é que o tema retorne com ainda mais força, diante da crise política que se desenrola.
Planalto age para evitar estrago maior
Nos bastidores, a palavra usada por líderes governistas é “desespero”. A possibilidade de rejeição de Messias pelo Senado preocupa não apenas pela derrota em si, mas pelas mensagens políticas que ela enviaria.
A eventual rejeição significaria que Lula não conseguiria emplacar um nome de sua estrita confiança para o STF — algo que nenhum presidente deseja. Além disso, daria munição à oposição, que já prepara discursos acusando o governo de tentar “aparelhamento do Judiciário” e “interferência” nas investigações da CPI.
Para conter o avanço da crise, o governo montou uma verdadeira operação política: ministros, líderes partidários e articuladores têm percorrido gabinetes no Senado, tentando convencer parlamentares indecisos e amenizar resistências. A ordem é isolar senadores mais críticos, reforçar compromissos com aliados tradicionais e oferecer contrapartidas políticas que possam assegurar votos em favor de Messias.
Oposição promete confrontar até o fim
Parlamentares da base oposicionista já anteciparam que não vão recuar. Para eles, Messias tem a obrigação moral e institucional de esclarecer se houve omissão da AGU diante das denúncias feitas pelos procuradores.
Líderes oposicionistas afirmam que o caso “cheira a interferência” e garantem que levarão a disputa até suas últimas consequências. Para esses parlamentares, impedir Messias no STF seria um recado ao Palácio do Planalto de que a Casa Alta não aceitará “apadrinhamentos políticos travestidos de indicações técnicas”.
Lula tenta evitar derrota histórica
Segundo fontes próximas ao presidente, Lula está “profundamente irritado” com a condução da crise e teme que o desgaste de Messias respingue diretamente sobre sua gestão. Uma derrota no Senado seria interpretada como falta de controle político da base aliada e minaria a autoridade do governo em votações futuras.
A avaliação interna é de que o episódio pode afetar, inclusive, a relação com o próprio STF. Messias era visto como um nome capaz de consolidar uma ponte segura entre o Planalto e a Corte — e sua rejeição abriria espaço para desconfiança e rusgas institucionais.
Nos próximos dias, o governo pretende intensificar ainda mais o corpo a corpo com os senadores. A votação será decisiva não apenas para o futuro de Jorge Messias, mas também para medir a força política de Lula em um momento crítico de seu terceiro mandato.
Enquanto isso, a oposição segue articulada e firme: quer Messias na CPI, quer respostas e promete não poupar esforços para desgastar o governo. O embate promete marcar um dos momentos mais tensos da atual legislatura — e pode redefinir o equilíbrio de forças na capital federal.
