Eu precisaria não ter visto a senadora Simone Tebet, olhos postos na eleição presidencial, participar ativamente das ridicularias da CPI da Covid para querer vê-la longe do poder. Momentos como aqueles não fazem pessoas como Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues serem como são. Situações que extravasam perversidade só existem porque existem pessoas como Renan, Omar, Randolfe e Simone (que voluntariamente aderiu ao grupo) para as quais o interesse próprio é a determinante superior das decisões e ações políticas.
É o que confere nocividade ao poder. É o que dá longa vida a um modelo como o nosso, onde a crise está no cardápio do dia ou está prevista para amanhã, só faltando decidir o modo de servi-la aos desapoderados cidadãos do país. Entre estes, caro leitor, sem saber seu nome, seu estado de origem ou o que você faz na vida, eu sei que você se inclui. Tem sido assim ao longo do meu tempo de vida. A crise, ou estamos nela ou é um prognóstico seguro.
Muitas pessoas me diziam, desde antes da eleição de 2018:
“A vitória de Bolsonaro vai levar o país para uma crise sem fim porque aqueles que mandam não querem um presidente com essas características”.
Era verdade, mas havia muitos outros motivos para tudo que sobreveio. O principal deles é um modelo político mal costurado, essencialmente inaproveitável. Muitas vezes, ao longo das últimas décadas, em palestras, eu o descrevi como trabalho de má alfaiataria institucional.
Nossos muitos constituintes republicanos criaram sucessivos modelos que não funcionam. A sociedade brasileira paga, no seu conjunto, o preço dos imensos desníveis econômicos, sociais e culturais que nela se manifestam.
“Os problemas da democracia se resolvem com mais democracia” ouvi muitas vezes ser dito numa época em que o ‘Orçamento participativo’ era recheio de discurso esquerdista e solução para as dificuldades do Rio Grande do Sul. Meninos, eu vi aquele orçamento, dito democrático, ser levado do Palácio Piratini para o Palácio Farroupilha (do governo ao parlamento), num comício petista, entre bandeiras vermelhas ao som de discursos de louvor e ladainhas revolucionárias
Os problemas da democracia se resolvem com inteligência, com todos sujeitos às leis aprovadas (o que significa extinção de privilégios) e sob regras que tornem a ação virtuosa mais compensadora do que a ação viciosa, o que se traduz em prerrogativas dos membros do poder severamente contidas pela ordem política criada e pela atenção social.