Boulos tenta salvar Janones de punição por rachadinha


O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, votou no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pelo arquivamento do caso envolvendo o deputado André Janones (Avante-MG). Janones é acusado de ter promovido um esquema de rachadinha em seu gabinete. Boulos, que atua como relator do caso, justificou seu voto alegando que as suspeitas contra Janones se referem a um período anterior ao atual mandato do parlamentar.


"É preciso trazer à baila que a representação do PL traz fatos ocorridos antes do início do mandato de deputado federal do representado", explicou Boulos, destacando que o próprio Janones afirmou que as suspeitas se referem a eventos anteriores a seu atual mandato. Em 2019, no início do primeiro mandato de deputado de Janones, uma gravação veio à tona na qual o parlamentar afirmava que o dinheiro arrecadado seria utilizado para financiar a campanha de seu grupo político em 2020.


Boulos ressaltou que as suspeitas sobre Janones já eram de conhecimento público desde 2021. Após a leitura do parecer de Boulos, houve um pedido de vista, e o relatório será votado nas próximas sessões do Conselho de Ética.


O caso de rachadinha contra Janones se tornou público quando, em novembro de 2023, surgiu um áudio de 2019 no qual o deputado sugeria a criação de uma "vaquinha" mensal entre os servidores de seu gabinete. No áudio, Janones explicava que o dinheiro arrecadado seria utilizado para financiar a campanha de seu grupo político nas eleições municipais de 2020. "Como nós não vamos ser corruptos, não vamos aceitar cargos [...] Como a gente não vai ceder a essas coisas e a gente precisa de dinheiro pra fazer campanha, qual é a minha sugestão? E aí nós vamos dividir o valor entre nós, inclusive eu. Isso é, todos. E isso é legal. Às vezes, você confunde isso com devolver salário. Devolver salário é você ficar lá na sua casa dormindo, me dá seu cartão, todo mês eu vou lá e saco e deixo só um salário pra você. Isso é devolver salário", afirmou Janones no áudio.


Ele prosseguiu sugerindo que os valores a serem contribuídos pelos assessores poderiam variar de R$ 50 a R$ 200, de acordo com o salário de cada um. "E a gente começar uma vaquinha já no primeiro mês de salário pra gente poder disputar as eleições de 2020 com o básico pelo menos", acrescentou Janones. Na mesma reunião, um dos assessores comentou que essa seria "a única saída para Janones disputar a eleição sem ceder ao sistema", referindo-se à rejeição de doações de empresas e ao desvio de verbas públicas.


Apesar de Janones não ter se candidatado nas eleições municipais de 2020, ele conseguiu eleger sua ex-assessora Leandra Guedes como prefeita de Ituiutaba, cidade onde ele foi derrotado em 2016.


A decisão de Boulos de votar pelo arquivamento do caso gerou reações diversas. Alguns defendem que o arquivamento é correto, uma vez que os fatos ocorreram antes do atual mandato de Janones, enquanto outros acreditam que as suspeitas de rachadinha devem ser investigadas independentemente do período em que ocorreram.


O caso também traz à tona discussões sobre a prática de rachadinha no Brasil, uma forma de corrupção em que parlamentares ficam com parte dos salários de seus assessores. Embora a prática seja amplamente condenada, casos como o de Janones mostram que a corrupção pode estar entranhada em diferentes níveis do sistema político.


Boulos, por sua vez, argumenta que seu voto foi baseado em critérios técnicos e legais. "Meu papel como relator é analisar os fatos conforme eles são apresentados e garantir que a justiça seja feita de acordo com a lei", afirmou o deputado. "É fundamental que o Conselho de Ética mantenha seu compromisso com a imparcialidade e a legalidade."


À medida que o caso se desenrola, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados enfrentará a tarefa de equilibrar a aplicação rigorosa da lei com a necessidade de transparência e responsabilidade política. Independentemente do resultado final, o episódio destaca a importância de mecanismos de controle e supervisão para garantir a integridade dos representantes eleitos e das instituições públicas no Brasil.

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