A fraqueza de Lula e a franqueza de Bolsonaro


 A recente definição das lideranças nas casas parlamentares trouxe à tona um cenário que revela as dificuldades enfrentadas pelo atual governo, mesmo contando com uma estrutura de poder ampla. Apesar de dispor da máquina estatal, do controle de estatais, da influência do Supremo Tribunal Federal e do apoio de grande parte da mídia, o governo não conseguiu sequer indicar um nome do Partido dos Trabalhadores para concorrer às presidências da Câmara e do Senado. Esse fato ressalta a fragilidade da articulação política do Executivo e evidencia a força do Centrão, bloco que historicamente define os rumos do Congresso conforme sua conveniência.


Curiosamente, essa falta de influência não gerou para o presidente as mesmas críticas que foram direcionadas ao ex-mandatário, que mesmo sob ataques constantes e um cenário político adverso conseguiu consolidar a direita no Brasil. Diferentemente do atual chefe do Executivo, seu antecessor, mesmo após ser alvo de uma facada, enfrentar um processo eleitoral conturbado e posteriormente se tornar inelegível, ainda exerce forte influência sobre a política nacional. Sua liderança permitiu que a direita garantisse o comando de três comissões estratégicas no Senado: Direitos Humanos, Segurança e Infraestrutura. Esses espaços são fundamentais para pautas como liberdade de expressão, combate à censura, segurança pública e investimentos em infraestrutura.

Ainda que a oposição não tenha conquistado todos os espaços desejados, obteve avanços importantes dentro das possibilidades oferecidas pelo tamanho de sua bancada. Diferentemente do governo, que depende de negociações e concessões para assegurar apoio, os parlamentares da direita conseguiram avanços sem recorrer a práticas tradicionais como a distribuição de cargos e a compra de votos no Congresso.

O Centrão, por sua vez, mais uma vez demonstrou seu papel determinante na política nacional. Esse bloco, que não possui compromissos ideológicos fixos, tradicionalmente alinha-se ao governo quando este se apresenta forte e abandona a base quando percebe sinais de fraqueza. Isso explica a presença de políticos veteranos como Renan Calheiros e Otto Alencar na liderança de importantes comissões, garantindo que o grupo continue a exercer influência e manter seus feudos políticos.

Um aspecto simbólico da nova configuração do Congresso foi a distribuição das vice-presidências das casas legislativas. O Partido Liberal, sigla do ex-presidente, conseguiu garantir a primeira vice-presidência, enquanto o PT ficou apenas com a segunda vice. Isso demonstra que, apesar da força institucional do governo, sua base ainda enfrenta dificuldades para se consolidar no Parlamento.

Dentre os personagens que se destacaram na disputa, dois perfis diferentes chamaram atenção. O senador Eduardo Girão e o deputado Marcel Van Hatten, ambos independentes e sem vínculos diretos com a figura do ex-presidente, adotaram uma postura de franco-atiradores, lançando candidaturas alternativas que serviram mais para fortalecer suas próprias imagens do que para obter vitórias efetivas.

Por outro lado, a postura do ex-ministro e atual senador Marcos Pontes gerou críticas dentro do próprio campo da direita. Sua tentativa de se distanciar da liderança do ex-presidente foi vista como um erro estratégico, pois sua eleição esteve diretamente ligada à associação com a imagem do antigo chefe do Executivo. A movimentação de Pontes foi percebida como um ato de ingratidão e, além de não contribuir significativamente para o cenário político, pode ter custado parte de seu eleitorado, que esperava uma postura mais alinhada com a base conservadora.

O novo arranjo do Congresso Nacional reflete as dinâmicas políticas que há muito tempo caracterizam o Brasil. O Centrão mantém seu poder de barganha, garantindo espaços estratégicos independentemente de quem esteja no governo. A direita, mesmo sem ocupar a maioria das posições-chave, conseguiu consolidar sua presença em áreas fundamentais. Enquanto isso, o governo, apesar de contar com recursos e apoio institucional, enfrenta dificuldades para traduzir seu poder em influência efetiva dentro do Legislativo. Esse cenário indica que os próximos anos serão marcados por intensas disputas políticas, em que a força das ideias e a capacidade de articulação serão fatores determinantes para o futuro do país.
Jornalista