Para garantir “boquinha” da irmã, deputado retira assinatura do impeachment de Lula


 A oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou sua primeira baixa no pedido de impeachment protocolado contra o chefe do Executivo. O deputado federal Eduardo Velloso Viana, do União Brasil pelo Acre, retirou sua assinatura do documento após sofrer pressão do Planalto. A decisão do parlamentar veio à tona pouco tempo depois de ele ter aderido ao requerimento apresentado pelo deputado Rodolfo Nogueira, do PL do Mato Grosso do Sul.

O pedido de impeachment tem como base a denúncia de que o presidente teria cometido uma suposta "pedalada fiscal" no programa Pé-de-Meia, criado para incentivar a permanência de jovens no ensino médio através de incentivos financeiros. A oposição argumenta que a execução orçamentária do programa desrespeitou regras fiscais e, por isso, justificaria a abertura do processo de impedimento. Até o momento, o pedido já reuniu o apoio de 130 parlamentares, mas, para seguir adiante, precisa da análise do presidente da Câmara dos Deputados e do aval de ao menos 342 deputados.

A retirada do apoio de Eduardo Velloso ocorre em um contexto que levanta suspeitas sobre o real motivo de sua mudança de posição. Em maio do ano passado, o parlamentar conseguiu nomear sua irmã, Luciana Borges de Velloso Viana, para um cargo de confiança na Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, a Embratur. Atualmente, ela ocupa a posição de gerente de captação de novos negócios na diretoria de gestão e inovação da agência, com um salário de R$ 18.938,63. Luciana faz parte de um grupo restrito de apenas 23 funcionários com cargos de confiança na instituição.

Mesmo após essa nomeação, Eduardo Velloso decidiu apoiar o pedido de impeachment contra Lula, o que causou desconforto no governo. Fontes nos bastidores afirmam que, diante disso, o Palácio do Planalto teria intensificado a pressão sobre o parlamentar, resultando na sua mudança de postura. O governo, no entanto, não se pronunciou oficialmente sobre qualquer tipo de articulação nesse sentido.

A retirada do apoio de Velloso representa um obstáculo para a oposição, que precisa manter a coesão entre os parlamentares para avançar com o processo de impeachment. Além disso, a decisão do deputado levanta questionamentos sobre a influência do governo na manutenção de sua base de apoio no Congresso. Para o Planalto, a estratégia de enfraquecer o movimento oposicionista pode ser essencial para evitar que o processo ganhe tração e chegue ao plenário da Câmara.

Especialistas apontam que a saída de Velloso pode ser um indicativo de que o pedido de impeachment tem poucas chances de prosperar. Embora 130 parlamentares já tenham assinado o documento, o número ainda está longe dos 342 votos necessários para aprovação do processo. Além disso, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem se mantido discreto em relação ao tema e não deu sinais de que pretende pautar o assunto em breve.

A estratégia do governo tem sido manter a base aliada unida e garantir que possíveis dissidências sejam contidas antes que ganhem força. Nos bastidores, interlocutores do Planalto já esperavam que alguns parlamentares pudessem rever suas posições diante da complexidade política do tema. O caso de Eduardo Velloso pode ser apenas o primeiro de outros recuos, à medida que a articulação política do governo avança.

Por outro lado, a oposição segue tentando manter o pedido de impeachment em evidência. Rodolfo Nogueira, autor do requerimento, afirmou que a saída de Velloso não muda o compromisso da oposição em denunciar irregularidades do governo. Segundo ele, o movimento continuará buscando apoio para levar o caso adiante, mesmo diante das dificuldades impostas pelo cenário político.

O desfecho do pedido de impeachment ainda é incerto, mas a retirada da assinatura de Eduardo Velloso demonstra que a pressão do governo sobre seus aliados pode ser um fator determinante no andamento do processo. Resta saber se outros parlamentares seguirão o mesmo caminho ou se a oposição conseguirá manter a coesão necessária para levar a denúncia adiante.

Jornalista