General Augusto Heleno reage à condenação e afirma: “Agora é só esperar eles virem me pegar”
— Em uma das declarações mais contundentes desde que foi condenado a 21 anos de prisão, o general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Bolsonaro, afirmou neste sábado que está pronto para o cumprimento da pena: “Agora é só esperar eles virem me pegar.” A frase, repetida de forma tranquila e incisiva, foi dada durante uma entrevista à CNN Brasil, repercutindo fortemente no meio político e nas redes sociais.
A condenação, considerada por muitos de seus aliados como dura e politicamente motivada, decorre da suposta participação do general em uma trama golpista relacionada aos eventos de 8 de janeiro de 2023. Segundo a decisão judicial, o ex-ministro teria atuado de forma estratégica no plano que culminaria em ações contra o resultado das eleições de 2022. Heleno, entretanto, refuta categoricamente todas as acusações.
Durante a entrevista, o general fez questão de reafirmar sua inocência: “Eu não mandei fazer nada. Não participei de nada. Não incentivei nada. Sempre trabalhei dentro da legalidade e da Constituição. Quem me conhece sabe disso.” Ele também destacou que, no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes, encontrava-se em casa, acompanhado da esposa, e assistiu aos acontecimentos com espanto. “Fiquei horrorizado com aquilo. É impossível que tentem me ligar àquilo. Eu jamais apoiaria algo daquela natureza.”
A serenidade de Heleno ao falar sobre a possibilidade de prisão chamou a atenção. Ao contrário do tom indignado que muitos esperavam, ele se mostrou resignado — e até irônico. “Se eles acham que têm razão, que cumpram o que decidiram. Não vou fugir do Brasil, não vou me esconder, não vou pedir asilo. Tudo o que fiz foi servir meu país.”
Quando questionado sobre a chance de reverter a decisão no Supremo Tribunal Federal ou em instâncias internacionais, Heleno admitiu não ter expectativas otimistas: “A verdade é que eu não acredito que vá mudar muita coisa. O cenário está montado, e qualquer tentativa de reversão é tratada como afronta. Então, que seja. O tempo é o maior juiz que existe.”
A entrevista rapidamente se tornou um dos temas mais comentados no X (antigo Twitter), com hashtags em defesa do general surgindo entre os tópicos mais discutidos. Aliados políticos classificaram sua postura como “digna” e “patriótica”, enquanto críticos viram na fala uma tentativa de vitimização e fortalecimento da narrativa de perseguição contra figuras do antigo governo.
Nos bastidores, militares da reserva manifestam preocupação com o impacto da prisão de um general quatro estrelas — algo raríssimo na história brasileira e que reacende debates sobre a relação entre Forças Armadas e política. Alguns interpretam a serenidade de Heleno como um recado velado: ele não pretende confrontar as instituições neste momento, mas tampouco admitirá culpa por algo que considera injusto.
Parlamentares do PL e de partidos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro também reagiram. Um deputado federal, sob condição de anonimato, afirmou: “O que estão fazendo é um aviso para todos nós. Se podem prender o Heleno, podem prender qualquer um.” Outro aliado do campo conservador declarou que o episódio simboliza “a escalada de decisões políticas travestidas de justiça”.
Do lado oposto, juristas e analistas ligados ao governo defendem a decisão judicial e afirmam que a condenação de Heleno segue provas robustas apresentadas ao longo do processo. Um professor de direito penal ouvido pela CNN afirmou que “a punição representa um marco importante para evitar que agentes públicos de altíssima patente se sintam acima da lei”.
A fala final de Heleno, porém, foi a que mais repercutiu. Com o olhar firme, ele disse: “Eu já vivi o suficiente para saber que a vida é feita de escolhas. Eu fiz as minhas com consciência tranquila. Se agora querem me usar como exemplo, não serei eu a baixar a cabeça. A história vai julgar.”
Enquanto o país observa, o clima de tensão cresce. A possível prisão do general, somada a outras operações envolvendo figuras centrais do antigo governo, alimenta a sensação de que o Brasil vive um dos períodos mais polarizados de sua história recente. Para muitos, a frase dita por Heleno não foi apenas um desabafo, mas um retrato simbólico de um país onde questões judiciais e políticas parecem caminhar lado a lado — e cujas consequências ainda estão longe de serem compreendidas por completo.
O Brasil, mais uma vez, se vê diante de um episódio que divide opiniões e provoca inquietação. E, para muitos, resta a sensação expressa no desabafo final da própria reportagem: A que ponto chegou o país…
