Jair Bolsonaro é preso preventivamente a pedido da PF

 

Bolsonaro é preso preventivamente após ordem de Alexandre de Moraes; PF cumpre mandado no Distrito Federal

22/11/2025 — Brasília (DF)
Em um dos desdobramentos mais dramáticos da crise política que o país enfrenta desde 2023, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) foi preso preventivamente na manhã deste sábado (22), após ordem expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O pedido partiu da Polícia Federal (PF), que justificou a necessidade da medida para garantir o andamento de investigações ainda em curso.

Bolsonaro foi detido em sua residência no condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, por volta das primeiras horas da manhã. Segundo nota oficial, a Polícia Federal cumpriu “mandado de prisão preventiva expedido pelo STF”, sem apresentar maiores detalhes sobre fundamentos adicionais, mantendo o sigilo próprio dos procedimentos cautelares.

A prisão preventiva não significa início do cumprimento da pena de 27 anos e três meses determinada pela Primeira Turma do STF em setembro deste ano. Na ocasião, Bolsonaro foi condenado por liderar uma organização criminosa que, segundo o colegiado, planejou e executou uma tentativa de golpe de Estado com o objetivo de se manter no poder após o fim de seu mandato.

Detido em sala de Estado

Após a prisão, Bolsonaro foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Lá permanecerá em uma sala de Estado — espaço especial reservado para chefes do Executivo e autoridades de alta relevância. O ambiente é semelhante ao utilizado anteriormente por figuras como Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer, ambos também detidos em estruturas da PF em diferentes ocasiões.

Fontes próximas à defesa afirmam que Bolsonaro está calmo, mas indignado com o que considera uma “perseguição política sem precedentes”.

Recursos ainda em andamento

Apesar da condenação de setembro, o processo ainda não transitou em julgado. A defesa do ex-presidente, liderada pelos advogados Celso Vilardi e Paulo Cunha Bueno, argumenta que o julgamento da Primeira Turma foi marcado por “provas frágeis” e “contradições evidentes” no acórdão.

Em embargos de declaração, os advogados também alegaram que Bolsonaro não teve participação direta nos atos atribuídos a ele e afirmam que houve “desistência voluntária” de qualquer ação golpista. Para a defesa, mesmo que se admitisse que houve um início de articulação, o ex-presidente teria interrompido o processo antes de qualquer efetiva execução.

Os embargos, contudo, não poderiam reverter a condenação — apenas esclarecer pontos obscuros do julgamento e, eventualmente, impactar na dosimetria da pena. Contudo, em decisão unânime, a Primeira Turma rejeitou todos os argumentos.

A divisão na Corte e o contexto da decisão

No julgamento de setembro, quatro ministros votaram pela condenação: Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. O único voto divergente foi o do ministro Luiz Fux, que posteriormente migrou para a Segunda Turma do STF em novembro, reduzindo ainda mais o espaço para divergências internas no colegiado responsável pelo caso.

Desde então, as decisões da Primeira Turma têm sido tomadas por maioria clara, especialmente após o pedido de aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso.

Prisão domiciliar anterior e descumprimento de medidas

A prisão preventiva deste sábado não é a primeira a atingir o ex-presidente. Bolsonaro já estava em prisão domiciliar desde 4 de agosto, imposta após descumprimento de medidas que o proibiam de interagir politicamente em redes sociais e manifestações públicas. O ex-presidente participou virtualmente de atos em São Paulo e no Rio de Janeiro, com transmissões ao vivo — gesto considerado violação direta das determinações de Moraes.

Antes disso, Bolsonaro passou 17 dias monitorado por tornozeleira eletrônica, também por determinação do ministro, que entendeu haver risco de interferência indevida no processo em andamento.

Investigação sobre interferência internacional

Outro ponto citado nos bastidores como crucial para a nova prisão envolve a apuração sobre tentativas de Bolsonaro e de seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de influenciar membros do governo dos Estados Unidos para pressionar o STF a arquivar ações contra o ex-presidente.

Transferências financeiras do ex-presidente para Eduardo nos EUA, onde o parlamentar reside desde o início do ano, foram tratadas pela PF como possíveis indícios de obstrução de justiça. O caso se desdobrou em inquérito e, no último dia 15, Eduardo Bolsonaro foi tornado réu pela Primeira Turma por crime de coação no curso do processo.

“Primeira alternativa não existe”: declarações que voltam à tona

A prisão reacende declarações do próprio ex-presidente, que por anos sugeriu a possibilidade — e até a recusa — de ser detido. Em 2021, Bolsonaro afirmou que seu futuro se resumia a “ser preso, morrer ou vencer” e enfatizou: “Pode ter certeza que a primeira alternativa não existe”.

Mais recentemente, em entrevista à Bloomberg, Bolsonaro admitiu estar preparado para a prisão: “Durmo bem, mas já estou preparado para ouvir a campainha tocar às seis da manhã: ‘É a Polícia Federal!’”.

Hoje, a previsão se concretizou.

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