Com escassez de alimentos, escolas do DF fazem “escambo” de merenda

Crise na Merenda Escolar do Distrito Federal: Servidores Recorrem a Trocas e Doações para Alimentar Alunos


A falta de alimentos nas merendas das escolas públicas do Distrito Federal tem gerado uma série de problemas, levando os servidores a tomarem medidas extremas para garantir que os alunos não fiquem sem refeições. Relatos de escolas como o Centro de Ensino Médio Integral do Gama (Cemi) revelam a gravidade da situação, onde servidores têm recorrido a trocas de ingredientes entre unidades e, em alguns casos, até mesmo comprando alimentos com o próprio dinheiro.


Jane Lima, responsável pela merenda no Cemi, explicou a dificuldade enfrentada diariamente: "A corda arrebenta aqui [dentro da escola]. Os pais vêm em cima da gente, pois não estão sabendo o que está acontecendo, e, muitas vezes, somos denunciados. O que a gente pode fazer tem sido feito. A gente quer deixar claro para a população que há coisas que fogem ao nosso controle, infelizmente. E é isso que aconteceu esta semana. Se eu e o diretor não tivéssemos ido a outras escolas pedir uma doação, uma troca, na terça-feira (2/4), os nossos alunos teriam ficado sem o café da manhã".


O problema não se limita ao Cemi. Diversas escolas têm enfrentado dificuldades semelhantes, resultando em refeições inadequadas ou até mesmo na falta delas. Além da troca entre unidades, alguns servidores relataram comprar produtos com o próprio salário para garantir a alimentação dos alunos.


A crise na merenda escolar tem sido uma realidade constante desde o início do ano letivo. A falta de repasse de ingredientes essenciais, como arroz, feijão, carne, leite e outros itens básicos, tem levado as escolas a improvisarem cardápios e buscar alternativas para suprir as necessidades dos estudantes.


Alunos do Cemi também compartilharam suas experiências, destacando a falta de variação nas refeições e a repetição constante de alimentos. Uma aluna relatou: "Temos acesso a um cardápio, mas nem sempre a escola consegue servir o que está aqui [no cardápio]. Hoje (3/4), por exemplo, era para ser servido peixe no almoço, mas a merendeira disse que a escola não recebeu o peixe. Ontem pela manhã (2/4), comemos biscoito e suco, nessa quarta-feira (2/4), também. Estamos percebendo essa falta de variação, racionamentos, e isso não é de hoje".


As denúncias não se limitam apenas ao Cemi. Outras escolas públicas do DF também enfrentam problemas similares, como a falta de entrega de ingredientes essenciais para a preparação das refeições. Mensagens trocadas entre professores e coordenadores de regionais revelam tentativas de adaptação dos cardápios devido à escassez de alimentos.


Segundo dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mais de R$ 16 milhões foram repassados à Secretaria de Educação do DF entre fevereiro e abril deste ano por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). No entanto, a falta de alimentos nas escolas levanta questionamentos sobre a efetividade do uso desses recursos.


Diante das denúncias, o deputado distrital Gabriel Magno (PT) alertou para a suspensão da entrega de merenda escolar em algumas escolas devido à falta de licitação. O parlamentar enfatizou que não há justificativa para a escassez de alimentos, especialmente considerando que a verba destinada à merenda escolar existe.


O Sindicato dos Professores (Sinpro) também se manifestou sobre a situação, destacando a falta de qualidade dos alimentos entregues às escolas. O diretor do Sinpro, Samuel Fernandes, afirmou que a pasta não está fornecendo os alimentos necessários para a merenda dos estudantes, prejudicando o cumprimento do cardápio planejado.


Em resposta às denúncias, a Secretaria de Educação do DF afirmou que a distribuição de alimentos aos alunos tem sido realizada de forma sistemática, mas reconheceu a necessidade de lidar com eventuais problemas na entrega dos alimentos. A pasta assegurou que está preparada para suprir essas dificuldades sem prejudicar a nutrição dos estudantes.


Diante da gravidade da situação, é urgente que as autoridades responsáveis adotem medidas efetivas para garantir uma alimentação adequada aos alunos das escolas públicas do Distrito Federal. A falta de alimentos não só compromete a saúde e o bem-estar dos estudantes, mas também afeta diretamente seu desempenho acadêmico e desenvolvimento físico e cognitivo.

 

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