Moraes mira novo alvo e tensão política cresce: Flávio Bolsonaro entra no centro da crise
A crise institucional envolvendo o Supremo Tribunal Federal e a família Bolsonaro ganhou um novo capítulo neste sábado (22/11/2025). Após determinar a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes deixou claro, em sua decisão, que já possui um novo alvo em seu radar: o senador Flávio Bolsonaro, conhecido como “01”. A interpretação vem de indícios presentes no próprio despacho e foi detalhada em um texto do jornalista Cláudio Dantas, que apontou a escalada dos acontecimentos como um movimento calculado.
A decisão de Moraes, segundo observa Dantas, cita diretamente a atuação de Flávio ao convocar uma vigília pela saúde e liberdade de Jair Bolsonaro. O senador publicou, na noite anterior, um vídeo no X (antigo Twitter) chamando apoiadores a se reunirem às 19h deste sábado próximo ao condomínio Solar de Brasília 2, onde o ex-presidente reside. A convocação, com tom emocional e religioso, pedia aos apoiadores que não fossem meros espectadores da situação política atual.
“Você vai lutar pelo seu país ou assistir tudo do celular aí do sofá da sua casa?”, questionou Flávio no vídeo. Em seguida, ele conclamou: “Vamos invocar o Senhor dos Exércitos! A oração é a verdadeira armadura do cristão. É por meio dela que vamos vencer as injustiças, as lutas e todas as perseguições.”
O convite foi reforçado com detalhes específicos sobre o local e horário da vigília, algo que, na visão do ministro Alexandre de Moraes, ultrapassaria os limites de um ato pacífico. No despacho, Moraes classificou a iniciativa como parte do “modus operandi” de uma suposta “organização criminosa” associada à tentativa de golpe de Estado em 2022 — expressão que o ministro utiliza com frequência ao se referir ao grupo político ligado ao ex-presidente.
Segundo o ministro, a convocação teria potencial de desencadear uma mobilização massiva e de longa duração, reproduzindo padrões vistos no final de 2022, quando manifestantes se concentraram por semanas em frente a quartéis e instalações militares. Moraes argumentou que a vigília poderia gerar “graves danos à ordem pública”, além de dificultar o cumprimento de medidas judiciais relacionadas ao trânsito em julgado da Ação Penal 2.668/DF, que determinou a prisão de Bolsonaro.
O ministro ainda alegou que um possível tumulto nos arredores da residência poderia criar um ambiente favorável para uma eventual fuga do ex-presidente. Segundo ele, isso “colocaria em risco a segurança de moradores do condomínio, policiais designados para a missão, apoiadores e até mesmo do condenado e seus familiares”.
A inclusão de Flávio Bolsonaro na narrativa jurídica sobre a “milícia digital” e uma suposta tentativa de desestabilizar instituições criou novo foco de tensão. O senador, que nas últimas duas semanas passou a ser cotado como possível substituto do pai nas eleições de 2026, agora aparece como peça central em um tabuleiro político cada vez mais conflagrado. Seu nome ganhou força após declarações públicas do irmão Eduardo Bolsonaro, que defendeu a candidatura de Flávio em caso de inelegibilidade definitiva de Jair Bolsonaro.
O cerco judicial à família Bolsonaro, porém, já vinha se adensando há meses. Carlos Bolsonaro, vereador pelo Rio de Janeiro e pré-candidato ao Senado por Santa Catarina, foi indiciado no inquérito da chamada “Abin paralela” — investigação que mira Alexandre Ramagem e supostos usos irregulares da estrutura de inteligência do governo federal. As menções a diferentes membros da família nos últimos processos criaram a percepção, entre aliados, de que Moraes estaria movendo um tabuleiro para atingir todos os herdeiros políticos do ex-presidente.
A análise de Cláudio Dantas reforça essa visão ao sugerir que o ministro estaria “caçando um por um”, com o objetivo de retirar completamente o sobrenome Bolsonaro da vida pública brasileira. Dentro desse contexto, a convocação de Flávio teria sido apenas o estopim necessário para justificar uma nova investida judicial.
A possível perseguição política, como chamam apoiadores de Bolsonaro, acendeu alertas também em setores conservadores que veem o movimento como um avanço perigoso sobre direitos civis, liberdade religiosa e manifestações pacíficas. Já opositores da família afirmam que a escalada de tensões decorre do próprio comportamento dos envolvidos, que insistem em mobilizar massas mesmo diante de decisões judiciais definitivas.
O fato é que, com Bolsonaro preso e seus filhos sob diferentes níveis de investigação, o país se encontra novamente diante de um clima de instabilidade política. Resta saber se Flávio Bolsonaro será oficialmente alvo de novas medidas do STF e de que forma esse novo capítulo afetará não apenas a oposição, mas a própria disputa eleitoral que se aproxima.
Enquanto isso, como alerta o texto de Dantas, “Michelle que se cuide”. A frase, carregada de simbolismo, sugere que o cerco pode estar longe de terminar.
