Moraes adota pesos diferentes? Tornozeleira de Collor ficou 36 horas desligada e ministro não puniu; já com Bolsonaro, decisão foi outra
O episódio envolvendo a tornozeleira eletrônica do ex-presidente Fernando Collor voltou ao centro do debate político neste sábado (22), após vir à tona que o dispositivo ficou desligado por cerca de 36 horas, no início de maio, sem que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aplicasse qualquer punição. A informação reacendeu comparações inevitáveis com o caso de Jair Bolsonaro, cuja prisão foi determinada pelo mesmo ministro em circunstâncias bem diferentes — e, segundo críticos, muito mais rígidas.
A situação veio a público novamente por causa da repercussão da prisão de Bolsonaro, que levantou questionamentos sobre os critérios utilizados pelo ministro em cada caso. No centro da discussão está a pergunta que muitos passaram a fazer desde então: por que Collor não foi punido, enquanto Bolsonaro recebeu a medida mais extrema disponível?
O episódio da tornozeleira desligada
De acordo com documentos enviados ao STF, o problema com a tornozeleira de Fernando Collor ocorreu no dia 2 de maio, apenas um dia após a instalação do equipamento. Segundo a defesa, tratou-se de um “incidente involuntário”, decorrente do fato de o ex-presidente ainda estar se familiarizando com o uso do monitoramento eletrônico. Collor teria acreditado que a bateria estava carregada, mas o aparelho simplesmente desligou.
O Centro de Monitoramento Eletrônico de Pessoas, responsável por fiscalizar o uso do equipamento, relatou que o dispositivo ficou sem bateria e deixou de transmitir sinais. Moraes então solicitou explicações, recebeu a justificativa e decidiu não aplicar nenhuma medida adicional.
A equipe jurídica de Collor também afirmou que o equipamento não emitiu alertas prévios antes de desligar, o que reforçaria a tese de que não houve violação intencional das regras da prisão domiciliar. Assim que percebeu a falha, Collor retomou o carregamento e normalizou o monitoramento.
Além disso, a defesa solicitou que o ex-presidente continuasse em casa e não fosse transferido para um presídio — um pedido que Moraes atendeu integralmente. Collor atualmente cumpre pena de 8 anos e 10 meses por corrupção e lavagem de dinheiro, em regime domiciliar.
O contraste com Bolsonaro
A comparação com Jair Bolsonaro tornou-se inevitável após a ordem de prisão assinada por Alexandre de Moraes na sexta-feira (21). Nos documentos do processo, o uso de um ferro quente pelo ex-presidente não aparece como motivo central da decisão — e segundo a própria acusação, o episódio não teve relação direta com a determinação de prendê-lo.
Ainda assim, o caso tomou grandes proporções nas redes sociais. Em vídeo divulgado no sábado (22), Bolsonaro afirmou que encostou um ferro quente na tornozeleira, mas negou qualquer tentativa de removê-la ou danificá-la. Ele classificou o gesto como uma “curiosidade”, tentando minimizar a repercussão.
A defesa do ex-presidente, porém, sustenta que ele vinha cumprindo corretamente todas as exigências da prisão domiciliar e que a medida decretada por Moraes foi desproporcional — principalmente diante de precedentes como o de Collor.
Críticas e questionamentos
O tratamento distinto entre os dois casos rapidamente motivou críticas ao ministro Alexandre de Moraes. Parlamentares, juristas e comentaristas nas redes sociais apontam que a situação de Collor, com 36 horas sem qualquer monitoramento, seria mais grave do que a de Bolsonaro, que não chegou a interromper a transmissão de dados por tempo relevante.
Apesar disso, Collor não recebeu advertência, multa ou qualquer outra punição, enquanto Bolsonaro foi levado à prisão “por motivos que ainda geram controvérsia”, segundo avaliação de analistas.
O advogado André Marsiglia, por exemplo, afirmou que Moraes teria agido de forma a “criar um conflito desnecessário” no caso do ex-presidente. Já Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro, declarou que a prisão “não teve relação com a tornozeleira”, mas considerou o ato “arbitrário”.
O contraste ganhou ainda mais força porque, nos últimos dias, vieram à tona casos de monitorados que foram punidos por falhas muito menores em suas tornozeleiras — o que reforça a percepção de falta de uniformidade nos critérios aplicados pelo Supremo.
Reações internacionais e impacto político
O caso repercutiu também no cenário internacional. O ex-presidente Donald Trump declarou estar “surpreso” com a prisão de Bolsonaro e que considerava o episódio “uma pena”, citando o histórico de cooperação entre os dois líderes.
No Brasil, aliados políticos se mobilizam para transformar o caso em bandeira contra o que chamam de “arbitrariedades do Judiciário”. Para a oposição, a diferença de tratamento demonstra que a atuação de Moraes estaria se tornando “cada vez mais política e menos jurídica”.
Um debate que deve crescer
Com o aprofundamento da crise política, a comparação entre Collor e Bolsonaro promete alimentar discussões intensas nos próximos dias. Enquanto um ex-presidente passou 36 horas sem monitoramento e não foi punido, o outro acabou preso mesmo sem ter desligado o equipamento.
A disparidade, para muitos, revela mais do que uma coincidência: expõe um padrão de decisões que será cada vez mais questionado — tanto dentro do Congresso quanto pela opinião pública.
Seja qual for a interpretação, o fato é que o tema só começou. E deve continuar inflando o debate nacional sobre limites, responsabilidades e o papel do Judiciário no cenário político brasileiro.
