Lula não foi para penitenciária; se Bolsonaro for, será por vingança

Especialistas apontam: eventual prisão de Bolsonaro em penitenciária seria gesto de “vingança”, não de isonomia jurídica

Um novo capítulo da crescente polarização política no país ganhou força após análises publicadas nesta segunda-feira (17/11/2025), nas quais juristas e comentaristas avaliam o possível destino do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por participação em atos classificados como golpistas. A discussão gira em torno da possibilidade de Bolsonaro ser enviado diretamente para uma penitenciária comum, como defendem setores ligados ao PT, ou cumprir eventual pena em prisão domiciliar, como ocorreu com outros ex-presidentes e políticos de alta relevância.

Nas redes sociais, apoiadores do governo comemoram antecipadamente o que esperam ser a decisão do ministro Alexandre de Moraes, responsável por conduzir parte dos processos que envolvem Bolsonaro. Segundo esses grupos, o ex-presidente, por ser agora um “cidadão comum”, não teria direito a qualquer prerrogativa especial e deveria iniciar o cumprimento da pena na Papuda, argumentando que “a lei é para todos”. No entanto, especialistas alertam que o discurso de igualdade está sendo usado, na prática, como instrumento de revanche política.

Comparações inevitáveis: Lula, Collor e a realidade dos ex-presidentes

O ponto que mais gera controvérsia é a comparação com casos anteriores. Críticos afirmam que setores petistas ignoram deliberadamente o histórico recente do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Apesar da gravidade dos crimes que lhe foram imputados, Lula nunca chegou a ser encaminhado a uma penitenciária. O ex-presidente ficou preso em uma sala especial da Polícia Federal em Curitiba, com banheiro privativo e condições significativamente superiores às destinadas a presos comuns.

O caso de Fernando Collor também entra na discussão — e reforça o argumento de que a interpretação jurídica costuma ser moldada conforme a conveniência. Condenado em 2023 por corrupção e lavagem de dinheiro, Collor chegou a ser levado a uma penitenciária em Alagoas. Porém, sua estadia durou apenas sete dias. O Supremo Tribunal Federal concedeu prisão domiciliar rapidamente, alegando idade avançada e problemas de saúde, exatamente as mesmas condições alegadas hoje pela defesa de Bolsonaro.

Especialistas observam que Collor não foi encaminhado diretamente para a prisão domiciliar apenas porque, na época, discutia-se se a Lei de Execução Penal permitiria tal benefício de imediato. Ainda assim, a manutenção do ex-presidente em cela individual e com banheiro próprio demonstrou que, mesmo dentro da penitenciária, tratamento “diferenciado” foi garantido — algo que seria negado a Bolsonaro caso a narrativa petista prevaleça.

O Judiciário e a “interpretação de ocasião”

Analistas políticos destacam que o cerne do problema está na forma como dispositivos legais são aplicados de forma seletiva. O Judiciário brasileiro, apontam críticos, age frequentemente com discricionariedade ampla quando se trata de figuras de grande projeção. Na prática, cada caso é tratado como exceção, e não como regra.

Para esses especialistas, insistir que Bolsonaro deve iniciar pena em penitenciária não se baseia em uma defesa real da igualdade perante a lei, mas sim em um desejo de punição simbólica — uma resposta emocional e política aos anos de conflito entre o ex-presidente e ministros do STF. O argumento de que “a lei vale para todos” seria, segundo comentaristas, “retórica vazia” usada apenas quando conveniente.

Idosos, saúde debilitada e jurisprudência já consolidada

Outro ponto levantado é o fato de Bolsonaro ter quase 70 anos e apresentar problemas de saúde reconhecidos publicamente. A jurisprudência brasileira é clara ao estabelecer que, em casos de idosos com doenças crônicas, a prisão domiciliar pode — e frequentemente deve — ser aplicada. Essa interpretação foi usada tanto para Collor quanto para inúmeros outros réus menos conhecidos.

No entanto, críticos afirmam que desta vez a jurisprudência tende a ser ignorada deliberadamente. Para eles, se Bolsonaro for mantido em penitenciária por mais de uma semana, ficará evidente que a motivação não será jurídica, mas política. “Tratar como letra fria da lei apenas quando se deseja punir um adversário transforma o sistema em instrumento de vingança”, apontam especialistas.

Clima de tensão no Planalto e alerta máximo

Nos bastidores de Brasília, a apreensão é crescente. O Planalto acompanha com preocupação os movimentos do STF e teme que a prisão de Bolsonaro gere forte reação pública, ampliando ainda mais a polarização. Auxiliares diretos de Lula defendem que qualquer decisão seja tomada “com prudência institucional”, mas reconhecem que o clima dentro da Corte é imprevisível.

Enquanto isso, aliados do ex-presidente afirmam que tratá-lo de forma mais dura do que seus antecessores seria “escrever em pedra” a percepção de perseguição judicial, algo que Bolsonaro já repete há anos.

Conclusão

Diante do histórico, especialistas concluem que, se Bolsonaro for mantido em penitenciária comum por período prolongado, a decisão não será reflexo de uma lei igualitária, mas sim de um ato de revanchismo político. E essa percepção, alertam, poderá produzir consequências imprevisíveis para o ambiente institucional do país.

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