Apesar das pressões, advertências e sinais nada sutis vindos do Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter sua indicação de Jorge Messias — atual advogado-geral da União — ao Supremo Tribunal Federal. Conhecido nacionalmente como “Bessias” desde o episódio do áudio vazado em 2016, Messias é considerado um dos nomes mais leais ao presidente e figura estratégica no núcleo jurídico do governo. Agora, Lula está disposto a encarar uma disputa que já nasce marcada por articulações intensas, receios de derrota e resistências abertas entre senadores e ministros da Corte.
A decisão foi comunicada a aliados próximos no final de semana, quando o presidente deixou claro que não pretende recuar, ainda que líderes do Senado tenham alertado para o risco real de Messias não obter os votos necessários para aprovação. Segundo relatos, Lula está convicto de que a indicação é “correta, equilibrada e justa” e não considera trabalhar com outro nome — mesmo diante de um ambiente político onde o resultado está longe de ser considerado seguro.
Votação de Gonet é vista como sinal de alerta — e também como oportunidade
Os senadores que aconselham cautela se baseiam diretamente na votação recente que reconduziu Paulo Gonet ao cargo de procurador-geral da República. Gonet recebeu 45 votos favoráveis, o que representa o placar mais apertado para um PGR desde a redemocratização. O resultado, além de expor divisões na Casa, foi interpretado como um indicativo claro: se um nome com forte respaldo institucional quase foi rejeitado, a situação de Messias — alvo de resistências explícitas — tende a ser ainda mais delicada.
Gonet, é importante lembrar, tornou-se alvo de críticas da direita ao apresentar denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito que apura suposta tentativa de golpe. Mesmo assim, passou. Para alguns, isso prova que o Senado ainda não rompeu com o governo. Para outros, deixa evidente uma ruptura em curso — e acende o alerta para votações futuras.
Líderes parlamentares que procuraram o Planalto foram diretos: o caso do PGR não deve ser lido como vitória tranquila, e sim como recado. Um recado de que o ambiente está instável, fragmentado e hostil para indicações sensíveis como a de Messias.
Grupo próximo a Messias vê o cenário de forma oposta
Se entre os senadores o clima é de cautela, entre aliados do advogado-geral da União prevalece otimismo. Pessoas próximas ao ministro afirmam que o placar de Gonet revelou, na verdade, que “o pior já passou” e que, se um PGR desgastado conseguiu aprovação, Messias também conseguirá.
“Isso foi bom, na verdade. Se o Gonet, que denunciou o Bolsonaro, foi aprovado, Messias também será”, declarou um interlocutor do AGU, tentando dissipar a impressão de risco iminente.
Há ainda outro elemento usado pelo grupo como trunfo estratégico: Messias é membro da comunidade evangélica. Esse detalhe, segundo aliados, pode garantir apoios importantes em um Senado onde o segmento evangélico possui bancada organizada, influência crescente e capacidade de mobilizar votos decisivos. Messias, acreditam, teria boas chances de ultrapassar tranquilamente os 45 votos alcançados por Gonet.
Mas há um obstáculo de peso: Alcolumbre, Pacheco e ministros do STF
Mesmo com esse cálculo otimista, um fato permanece incontornável: Gonet não enfrentou contra si figuras poderosas como Davi Alcolumbre, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (por onde Messias terá de passar), nem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco — ambos apontados como reticentes à indicação.
Além disso, ministros do STF também demonstraram desconforto com o nome de Messias. Embora raramente falem publicamente sobre indicações, articulações nos bastidores mostram que alguns integrantes da Corte prefeririam um perfil técnico mais distante de disputas políticas e partidárias.
O clima, portanto, é de tensão em múltiplas frentes. Alcolumbre, conhecido por sua capacidade de travar ou acelerar votações conforme seus interesses, será peça central. Caso decida empurrar a sabatina, criar obstáculos regimentais ou simplesmente “cozinhar” a indicação, pode tornar a situação de Messias ainda mais complicada.
Lula aposta no confronto — e na fidelidade do Senado
Ao manter a indicação, Lula demonstra que pretende testar os limites de sua base e da própria relação com o Senado. O presidente avalia que ceder a pressões agora seria sinal de fraqueza e abriria precedente para novas derrotas em pautas relevantes.
A estratégia é arriscada. A sabatina de Messias promete ser uma das mais tensas dos últimos anos, com senadores da oposição prontos para transformar o “caso Bessias” em palco de embates políticos, revisitando episódios do passado e questionando seu alinhamento ao Planalto.
Resta saber se o presidente conseguirá converter seu gesto de firmeza em votos — ou se, ao insistir no confronto, acabará protagonizando uma das maiores derrotas de seu terceiro mandato. O cenário ainda é incerto, mas os próximos dias definirão o destino de Messias e, indiretamente, testarão a força real do governo no Senado.
