Dos Estados Unidos, Ramagem volta a desafiar Moraes

Neste domingo (30), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) voltou a incendiar o debate político brasileiro ao publicar, diretamente dos Estados Unidos, um novo vídeo em que desafia abertamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O parlamentar, que deixou o Brasil após se tornar alvo de medidas judiciais no âmbito das investigações sobre uma suposta tentativa de golpe, afirmou que está pronto para enfrentar um eventual pedido de extradição — desde que ele seja submetido ao crivo da Justiça norte-americana.

O vídeo, publicado nas redes sociais, rapidamente viralizou e movimentou apoiadores, críticos e observadores da cena política. Com tom firme e provocativo, Ramagem disse que, caso Moraes realmente deseje sua extradição, terá de apresentar às autoridades dos Estados Unidos todos os documentos e acusações relacionadas à investigação. Segundo ele, esse seria o primeiro passo para “expor ao mundo” o que classifica como “arbitrariedades” do Judiciário brasileiro.

“Se o Alexandre de Moraes quiser trazer algum pedido para minha extradição, ele vai ter que remeter para a análise de um juiz federal americano toda a ação do golpe que me envolve e o presidente Bolsonaro”, declarou o deputado. Em seguida, completou: “Peço que traga para a análise dos americanos essa ação do golpe, e nós vamos ver uma resposta enfática dos norte-americanos sobre o que é uma juristocracia, uma ditadura, uma arbitrariedade que assola o Brasil agora”.

As declarações ampliam a tensão que Ramagem vem mantendo com Moraes desde antes de sua partida para os Estados Unidos. Nas últimas semanas, o parlamentar do PL intensificou críticas ao ministro, afirmando ser vítima de perseguição política e alegando que as investigações conduzidas pelo STF extrapolam limites constitucionais. Moraes, porém, segue sustentando que todas as medidas adotadas têm respaldo legal, especialmente diante da gravidade dos fatos investigados.

Contexto de fuga ou exílio?

Desde que deixou o Brasil, Ramagem passou a aparecer em gravações e transmissões ao vivo feitas em solo norte-americano, sempre reforçando o discurso de que não está fugindo da Justiça, mas sim buscando proteção contra o que considera abusos do Judiciário brasileiro. O deputado chegou a chamar sua permanência nos EUA de “refúgio temporário”, em tom que remeteu a outros personagens políticos que, nos últimos anos, deixaram o país após atritos com decisões do STF.

Críticos, por outro lado, acusam Ramagem de tentar se vitimizar e de explorar o clima político para evitar responsabilização. Parlamentares alinhados ao governo e apoiadores de Moraes afirmam que o deputado adota uma postura calculada: com discursos inflamados no exterior, busca ganhar apoio internacional enquanto dribla investigações em andamento no Brasil.

Aliados de Ramagem, porém, rebatem. Segundo eles, o deputado estaria apenas denunciando excessos cometidos por Moraes e pelo STF, que, em sua visão, teriam ampliado de maneira indevida seus poderes nos últimos anos. Para esse grupo, o parlamentar expõe “a face autoritária” de decisões judiciais recentes e estaria agindo com coragem ao enfrentar uma das figuras mais influentes do Judiciário brasileiro.

O peso simbólico do desafio aos EUA

A fala de Ramagem, ao mencionar diretamente um juiz federal dos Estados Unidos, não é trivial. Autoridades norte-americanas costumam ser rigorosas em processos de extradição e avaliam criteriosamente eventuais violações de direitos ou perseguição política. O deputado parece querer transformar um possível pedido de extradição em palco internacional, apostando que a Justiça dos EUA poderá questionar a legitimidade das decisões de Moraes.

Essa estratégia também ecoa entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, frequentemente envolvidos em críticas ao STF e, especialmente, ao ministro Moraes. O deputado tenta ampliar o debate para além das fronteiras nacionais, insinuando que instituições internacionais poderiam endossar suas críticas ao modelo jurídico brasileiro.

Repercussão no cenário político

A publicação de Ramagem repercutiu imediatamente em Brasília. Parlamentares da oposição ao governo Lula saudaram o vídeo como um gesto de resistência, enquanto governistas trataram a gravação como mais um episódio de “espetacularização” de um investigado que resiste a responder à Justiça.

Nos bastidores, integrantes do PL avaliam que o movimento de Ramagem fortalece a narrativa de que figuras ligadas ao bolsonarismo estariam sendo “caçadas” judicialmente. Já no entorno do Judiciário, a avaliação preliminar é de que as falas não alteram o curso das investigações — e que, se houver pedido de extradição, ele será tratado pelas vias tradicionais entre os dois países.

Conclusão

O vídeo deste domingo reforça a posição de confronto adotada por Alexandre Ramagem e reacende o debate sobre os limites entre Justiça, política e liberdade de expressão no Brasil. Do outro lado, Alexandre de Moraes segue firme na condução das investigações e, até agora, não respondeu ao novo desafio público feito pelo deputado.

Enquanto isso, o ambiente político brasileiro continua polarizado. A permanência de Ramagem nos Estados Unidos, somada às suas declarações cada vez mais inflamadas, promete manter o assunto no centro das discussões. O desfecho — seja com extradição, cassação, arquivamento ou prolongamento da disputa — permanece incerto, mas com um ponto claro: o embate entre Ramagem e Moraes está longe de terminar.

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