A estranha movimentação de Nunes Marques e André Mendonça nos bastidores do Senado para fortalecer Jorge Messias na disputa por vaga no STF
Uma articulação silenciosa, inesperada e carregada de simbolismo político tem chamado atenção nos bastidores de Brasília. Os ministros André Mendonça e Kassio Nunes Marques, ambos indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, têm atuado discretamente para ampliar o apoio a Jorge Messias — atual advogado-geral da União e indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma cadeira na Suprema Corte.
O movimento, que até pouco tempo seria considerado improvável, tem provocado perplexidade entre aliados da oposição, especialmente porque tanto Mendonça quanto Nunes Marques são figuras associadas ao campo conservador e foram alçados ao STF com forte expectativa de representarem uma contenção ao avanço da influência petista no Judiciário. O gesto em direção a Messias, portanto, acende debates sobre estratégias institucionais, reposicionamentos políticos e a complexa lógica de sobrevivência dentro do Supremo.
Portas abertas na oposição
Segundo informações apuradas e compartilhadas por interlocutores do Senado, os dois ministros vêm funcionando como pontes informais entre Jorge Messias e parlamentares da oposição — incluindo nomes do PL, partido de Bolsonaro, que se mostravam firmemente contrários à indicação.
O simples fato de esses senadores aceitarem conversar com Messias já representa uma quebra de resistência significativa, uma vez que sua indicação foi inicialmente tratada com desconfiança pelo campo oposicionista. Para muitos, o advogado-geral da União poderia significar a consolidação da influência lulista no STF, um temor latente entre críticos do atual governo.
No entanto, a condição de Messias como evangélico e sua postura de diálogo direto com setores conservadores contribuíram para suavizar o clima e abrir espaço para interlocução. Segundo relatos, ele tem adotado um tom conciliador, apresentando-se como um magistrado capaz de atuar com equilíbrio e independência — uma estratégia que, aparentemente, vem surtindo efeito.
A influência silenciosa dos ministros
A participação de Mendonça e Nunes Marques nessa aproximação tem sido descrita como discreta, porém eficaz. Ambos têm boa relação com senadores da direita e do centro, e utilizam esse capital político para facilitar encontros e dissipar resistências.
Apesar das diferenças de carreira e estilo, os dois ministros compartilham um entendimento comum: a necessidade de manter estabilidade dentro do Supremo e evitar confrontos extremos entre os poderes. Nesse cenário, a chegada de alguém considerado moderado, articulado e com trânsito em vários espectros políticos pode ser vista como um alívio na tensão institucional.
Senadores já falam em apoio — mas em off
Após as conversas nos gabinetes, alguns parlamentares de oposição confidenciaram que tendem a votar a favor da indicação de Messias. No entanto, nenhum deles deve declarar publicamente essa intenção, justamente para não enfrentar críticas internas e nem gerar ruídos com suas bases eleitorais.
A natureza secreta da votação no Senado amplia ainda mais essa margem para apoios silenciosos. No plenário, longe dos holofotes, cada senador pode seguir seu próprio cálculo político sem temer retaliação direta de lideranças partidárias ou de eleitores mais rígidos ideologicamente.
Esse é um dos motivos pelos quais a confirmação de Messias pode contar com votos vindos de onde menos se espera — assim como mudanças repentinas de última hora.
Os números e o desafio de Messias
Para ser aprovado, Jorge Messias precisa obter pelo menos 41 votos entre os 81 senadores. Embora o governo Lula conte com uma base fiel, ela não é suficiente para garantir o resultado sem compor com setores independentes e oposicionistas.
O apoio — ainda que silencioso — de nomes ligados ao bolsonarismo pode ser decisivo para virar o jogo. Caso a votação ocorra conforme os bastidores indicam, Messias poderá alcançar uma margem confortável, reforçando a tese de que sua articulação suprapartidária funcionou.
Por que essa movimentação causa estranhamento?
A proximidade de ministros indicados por Bolsonaro com um indicado de Lula causa inevitável surpresa. O movimento destoa do embate político que marcou os últimos anos e sinaliza que, dentro do universo institucional do STF, as dinâmicas são mais complexas do que as disputas externas sugerem.
Alguns analistas interpretam esse gesto como um esforço para reduzir tensões entre o Executivo e o Judiciário. Outros veem como uma tentativa de os ministros fortalecerem alianças internas e manterem um equilíbrio de forças no tribunal.
Seja qual for a leitura, é evidente que algo mudou — e que o tabuleiro político de Brasília está se reorganizando. Resta agora aguardar a definição da data da votação no Senado, onde o futuro de Jorge Messias será selado. Mas, ao que tudo indica, ele chega mais forte do que o esperado.
