Venezuela: Opositor do regime de Nicolás Maduro morre na prisão

 

Opositor de Nicolás Maduro morre em prisão venezuelana após um ano de isolamento: denúncia reacende alerta internacional sobre violações de direitos humanos

A morte do ex-governador Alfredo Díaz, opositor histórico do regime chavista, voltou a expor ao mundo as duríssimas condições enfrentadas por presos políticos na Venezuela. Detido há pouco mais de um ano sob custódia do Estado, Díaz faleceu na prisão do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), em Caracas — estrutura temida e conhecida internacionalmente como El Helicoide. A denúncia foi feita neste sábado (6) pela ONG Foro Penal, que há anos monitora abusos e ilegalidades cometidos pelo regime de Nicolás Maduro contra opositores.

Alfredo Díaz, de 55 anos, era uma das figuras mais expressivas da oposição na ilha de Nueva Esparta, onde já havia sido vereador, prefeito e posteriormente governador. Desde novembro de 2024, quando foi detido em meio à convulsão política que sucedeu as eleições presidenciais contestadas pela oposição, ele estava mantido sob isolamento — e, segundo familiares, com acesso quase inexistente a visitas e cuidados médicos.

Foro Penal fala em “morte potencialmente ilícita”

O presidente da ONG, Alfredo Romero, foi um dos primeiros a tornar pública a morte. Em sua conta na rede X, Romero lamentou mais um caso de preso político morto sob custódia do Estado venezuelano.

“Outro preso político que morre em prisões venezuelanas. Estava preso há um ano, isolado. Só permitiram uma visita de sua filha. Tinha 55 anos. É revoltante! O Estado é responsável pela saúde da pessoa sob sua custódia”, escreveu.

O vice-presidente do Foro Penal, Gonzalo Himiob, reforçou que o caso deve ser investigado de maneira independente e transparente, conforme determina o chamado Protocolo de Minnesota (2016), usado internacionalmente para apurar mortes potencialmente ilícitas, especialmente quando há suspeita de ação ou omissão estatal.

“A família de Alfredo Díaz foi notificada de sua morte enquanto se encontrava sob custódia. Trata-se de uma morte potencialmente ilícita que deve ser investigada de maneira objetiva e imparcial”, destacou Himiob.

Voluntad Popular denuncia crime de Estado

O partido opositor Voluntad Popular (VP), um dos mais perseguidos pelo regime de Maduro e do qual fizeram parte figuras como Leopoldo López e Juan Guaidó, afirmou que Díaz morreu após um “infarto fulminante”, embora reforce que o ambiente de tortura psicológica, abandono médico e pressões dentro de El Helicoide configuram responsabilidade direta do Estado.

“Isto não é um fato isolado. É a consequência direta de um sistema que persegue, prende e destrói vidas para se sustentar no poder. Alfredo Díaz morreu sem liberdade, sem justiça e sem garantias mínimas, em uma prisão onde o regime decide quem vive e quem morre”, disse o partido em nota.

A denúncia do VP ecoa em um contexto internacional no qual a Venezuela já enfrenta questionamentos severos por violações sistemáticas de direitos humanos, documentadas pela ONU e pela OEA em relatórios recentes.

Família exige respostas: “O mataram?”

A viúva de Alfredo Díaz, Leynys Malavé, publicou em suas redes sociais um apelo emocionado e direto às autoridades venezuelanas:

“O que aconteceu com meu marido, o mataram?”

Segundo ela, há meses a família tentava obter informações sobre o estado de saúde do ex-governador, sem sucesso. A única visita permitida teria sido a de sua filha, em um encontro breve, monitorado e repleto de restrições.

Leopoldo López: “Negaram atendimento médico”

Em exílio, o líder opositor Leopoldo López também se manifestou. Ele, que conhece de perto a realidade das prisões políticas venezuelanas, afirmou que Díaz vinha solicitando atendimento médico havia meses — pedidos que jamais foram atendidos.

“Sua partida nos toca profundamente a quem caminhou com ele e compartilhou a luta pela liberdade”, declarou.

Preso após denunciar fraude e crise elétrica

A prisão de Alfredo Díaz ocorreu em novembro de 2024, poucos meses após a conturbadas eleições presidenciais de julho. Na ocasião, a principal coalizão opositora denunciou fraude generalizada na reeleição de Nicolás Maduro.

Díaz foi uma das vozes mais firmes ao questionar a falta de publicação dos resultados detalhados da votação, bem como a crise elétrica que atingiu Nueva Esparta naquele mês. O governo Maduro atribuiu o apagão a “ataques da oposição”, tese rechaçada por especialistas e moradores. Pouco depois dessas declarações públicas, ele foi detido.

Mais um capítulo trágico da repressão venezuelana

A morte de Díaz reforça a gravidade da situação dos presos políticos na Venezuela. Organizações internacionais estimam que mais de 250 opositores permanecem detidos sob condições degradantes, muitos deles enfrentando tortura física, psicológica e abandono médico.

Para analistas políticos, o caso deve gerar forte repercussão internacional e pressionar ainda mais o regime de Maduro, que tenta externamente se reposicionar como aberto ao diálogo enquanto, internamente, mantém práticas denunciadas há anos por ONGs e famílias de vítimas.

A tragédia de Alfredo Díaz, entretanto, mostra que a repressão segue viva — e custa vidas.


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