Os relatórios, que vazaram para a imprensa e circularam amplamente entre advogados e parlamentares, reúnem uma série de avaliações médicas realizadas ao longo de aproximadamente um ano. O conjunto inclui exames de imagem, análises de líquor, testes cognitivos e consultas clínicas periódicas. O material revela que o comprometimento neurológico de Heleno foi identificado ainda em 2022, antes mesmo do início do processo judicial que agora o mantém preso.
Segundo a documentação, o general apresenta um quadro caracterizado por perda progressiva de memória, dificuldade em armazenar informações recentes, repetição frequente de perguntas e lapsos de orientação espacial — sinais clássicos do Alzheimer. Além disso, os laudos detalham a redução da capacidade crítica, limitações funcionais e dependência crescente de terceiros para atividades básicas do dia a dia, como tomar medicamentos, lidar com aparelhos eletrônicos e gerenciar tarefas domésticas simples.
Exames de ressonância magnética apontaram atrofia cerebral, pequenos derrames e alterações compatíveis com doenças neurodegenerativas. Já a avaliação neuropsicológica confirmou o diagnóstico de Alzheimer em estágio inicial, reforçada pelos biomarcadores presentes no líquor, método considerado um dos mais precisos para identificar a presença da doença.
Entre os testes realizados, chamou atenção dos médicos o MoCA (Avaliação Cognitiva de Montreal), instrumento amplamente utilizado para medir funções executivas, memória, linguagem e orientação. Os resultados mostraram prejuízos significativos nessas áreas. A equipe médica destacou que, no cotidiano, Heleno já não consegue administrar corretamente sua rotina medicamentosa, apresenta dificuldade para manter conversas recentes e necessita de supervisão constante — inclusive para cuidados pessoais básicos.
A situação física do general também agrava o quadro clínico. Os documentos revelam que ele sofre de artrose acentuada na coluna e na região lombar, com deformidades que reduzem a mobilidade e ocasionam dor crônica. A soma de fatores neurológicos e físicos, segundo especialistas ouvidos pela defesa, coloca o militar em condição de vulnerabilidade extrema no ambiente prisional.
Os profissionais que assinam o relatório foram categóricos ao afirmar que a manutenção do general em regime de cárcere tende a acelerar o avanço da doença. Eles alertam que o estresse prolongado, o isolamento, a quebra de rotina e a limitação de estímulos cognitivos são fatores conhecidos por agravar quadros de Alzheimer, podendo inclusive precipitar episódios de confusão mental aguda, regressão cognitiva e crises emocionais.
Entre os arquivos anexados aos autos, há inclusive um vídeo no qual Heleno é convidado a realizar uma tarefa considerada simples durante um teste cognitivo: calcular e devolver um troco específico. No registro, ele demonstra grande dificuldade e não consegue completar a atividade. O material, segundo a defesa, reforça a deterioração mental do general e evidencia a urgência de medidas humanitárias.
A estratégia dos advogados agora é pedir a conversão imediata da prisão para o regime domiciliar com monitoramento eletrônico ou acompanhamento médico obrigatório. Eles devem argumentar que a legislação prevê medidas alternativas para presos com condições de saúde graves, sobretudo quando o encarceramento coloca em risco a integridade física e cognitiva do detento.
No meio militar, o caso tem repercussão intensa. Generais da reserva manifestaram preocupação com o estado de saúde de Heleno e têm pressionado discretamente por uma solução rápida. Para aliados do ex-ministro, sua permanência no CMP é insustentável diante das evidências apresentadas.
O governo e o Poder Judiciário ainda não se pronunciaram oficialmente sobre os novos documentos. No entanto, há expectativa de que a análise seja célere, dado o peso dos laudos e o risco representado pela manutenção do general no ambiente prisional.
Enquanto isso, o caso reacende o debate sobre a situação de presos idosos e com doenças neurodegenerativas, além de expor mais um capítulo sensível envolvendo figuras de destaque do antigo governo. Com a divulgação dos documentos e a deterioração do estado clínico de Heleno, cresce a pressão por uma decisão que considere não apenas os aspectos legais do processo, mas também as condições humanitárias do militar de 77 anos.