Uma nova controvérsia envolvendo decisões judiciais e acusações de motivação política voltou a movimentar o cenário jurídico e midiático nesta sexta-feira (28/11). O jornalista Paulo Figueiredo utilizou as redes sociais para denunciar o que chamou de “perseguição” do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, contra seu pai, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo. O caso se refere à negativa de um passaporte temporário que permitiria ao empresário viajar aos Estados Unidos para participar do casamento do próprio filho, marcado para este sábado (29), em Miami.
Segundo as informações divulgadas, Paulo Renato tinha seu passaporte retido por determinação da Justiça do Rio de Janeiro. A defesa buscou no STF uma autorização excepcional para viagem internacional, solicitando a Dino — relator do caso — a liberação temporária do documento. Inicialmente, uma liminar chegou a ser concedida por um integrante do gabinete do ministro, mas, ao tomar ciência do processo, Dino decidiu revogar a autorização.
O ministro justificou a reversão afirmando que o requerente não havia atendido aos requisitos legais necessários para a concessão de um passaporte temporário. Embora não tenham sido detalhados na decisão pública, esses requisitos normalmente incluem a comprovação de que a viagem é inadiável, além de garantias de retorno ao Brasil e ausência de risco de fuga, especialmente quando há processos em andamento.
No entanto, para Paulo Figueiredo, a justificativa jurídica não passou de uma “cortina de fumaça”. Em uma publicação extensa feita na plataforma X (antigo Twitter), o jornalista apresentou sua interpretação dos fatos e acusou diretamente Dino de agir por motivação política. Ele afirmou que a liminar havia sido concedida previamente por um funcionário e que, ao saber quem era o beneficiário, o ministro teria revertido “a própria decisão”.
“Foi muito pior. Algum estagiário do gabinete havia concedido a liminar e, ao descobrir de quem era, Dino reverteu a própria decisão”, publicou Figueiredo, sugerindo que o ministro teria agido de maneira pessoal e deliberada para impedir a viagem. Ele ainda alegou que “o caso escandaloso passou até por extorsão de juiz”, afirmando que traria provas a público “no tempo certo”.
O jornalista, conhecido por posições críticas ao governo e ao ministro do STF, elevou o tom ao afirmar que sua família está acostumada a enfrentar “perseguições” por parte de regimes políticos adversários. “Eu aprendi também com o meu próprio pai que nossa família sempre arcou e continuará arcando com o ônus da perseguição de regimes. E faremos isso de cabeça erguida e com determinação”, escreveu.
Em uma mensagem que misturou indignação e provocação, Figueiredo declarou que sabia exatamente “as escolhas” que fez ao se colocar como opositor político. Ele ainda celebrou o papel que teria desempenhado na retirada do visto americano de Flávio Dino — medida adotada pelo governo dos Estados Unidos em meio às discussões envolvendo a Lei Magnitsky, que prevê sanções para suspeitos de violações de direitos humanos. O jornalista insinuou que o ministro e seus familiares também teriam sido afetados pela decisão.
A publicação terminou com uma frase que repercutiu amplamente: “Só aumenta a minha satisfação de ter contribuído para retirar o visto do Gordola (e dos seus familiares). E em breve, estaremos fazendo um brinde à sua sodomização através da Lei Magnistky. Só vai para a guerra quem está disposto a sofrer”.
A retórica agressiva de Figueiredo chamou atenção tanto de analistas políticos quanto de juristas, que destacaram a gravidade das acusações e o nível de animosidade entre partes que deveriam atuar dentro dos limites institucionais. Até o momento, o ministro Flávio Dino não respondeu publicamente às declarações. No entanto, integrantes do STF apontaram nos bastidores que a decisão foi estritamente técnica e que eventuais acusações de perseguição carecem de provas.
Enquanto o debate se intensifica nas redes sociais e nos círculos jurídicos, Paulo Renato permanece impedido de deixar o país. A ausência no casamento do filho, motivo alegado no pedido ao Supremo, agora se soma ao pano de fundo de uma disputa que extrapola o âmbito familiar e se transforma em mais um capítulo da crescente tensão entre críticos da atuação do STF e integrantes da Corte.
Independentemente do desenrolar do caso, o episódio evidencia, mais uma vez, como decisões judiciais envolvendo figuras públicas podem ganhar contornos políticos explosivos, aprofundando o desgaste institucional e a polarização que marcam o atual momento brasileiro.