Ministros do STF consideram que “Bessias” traiu Gilmar

 

A relação já tensionada entre o Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado e o Palácio do Planalto ganhou novos contornos após a forte reação de ministros à atuação recente do advogado-geral da União, Jorge Messias. Em um movimento interpretado dentro da Corte como uma espécie de “traição”, Messias pediu a reconsideração da decisão do ministro Gilmar Mendes que blindou membros do STF de processos de impeachment — o que teria sido lido como um gesto calculado para agradar senadores e pavimentar sua própria indicação a uma vaga no Supremo.

Segundo relatos obtidos em Brasília, ministros próximos a Gilmar ficaram indignados com a iniciativa. Para eles, o pedido da AGU não apenas foi inoportuno, mas também um movimento político estratégico que ignorou completamente o apoio que o próprio Gilmar vinha oferecendo a Messias nos bastidores para tentar construir consenso em torno de seu nome no tribunal.

O incômodo ganhou força ao longo da quinta-feira (4), quando conversas privadas no STF passaram a rotular a atitude do advogado-geral como um ato claro de deslealdade. O ministro Gilmar Mendes, por sua vez, rejeitou no mesmo dia o pedido de reconsideração apresentado pela AGU, citando que o ordenamento jurídico brasileiro sequer prevê esse tipo de recurso.


A cronologia que acendeu o alerta

Uma das principais queixas dos ministros diz respeito ao timing da manifestação da AGU. Gilmar Mendes havia solicitado um parecer formal da Advocacia-Geral da União em 30 de setembro, mas a resposta só foi protocolada agora — justamente no momento em que Messias intensifica suas articulações políticas para ser indicado ao Supremo.

A impressão geral dentro da Corte é que o advogado-geral estaria tentando usar o desgaste público entre o Senado e Gilmar Mendes como plataforma para conquistar a simpatia de parlamentares, especialmente aqueles que já demonstram resistência à influência dos ministros sobre a condução da Casa. Tal estratégia, contudo, teria ignorado o impacto destrutivo dentro do próprio STF, sobretudo entre aqueles que vinham atuando para viabilizar seu nome.

Segundo fontes, Gilmar Mendes vinha trabalhando para reduzir resistências internas à possível indicação de Messias, especialmente de Alexandre de Moraes e Flávio Dino, que enxergam com cautela o advogado-geral. A iniciativa de Messias acabou atingindo justamente o ministro que mais poderia ajudar sua indicação avançar.


Uma disputa complexa por uma vaga decisiva

A corrida por uma vaga no Supremo já era repleta de tensões antes mesmo desse episódio. O ministro Alexandre de Moraes, por exemplo, demonstrava preferência pelo nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Sua articulação é fortemente alinhada aos interesses do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que também apoia Pacheco.

Flávio Dino, atual ministro do STF, tem histórico de atritos com Messias desde quando ambos integravam o governo federal — Dino no Ministério da Justiça e Messias na AGU. Esse passado contribui para tornar ainda mais difícil qualquer possibilidade de construção de consenso.

Com tantos obstáculos, a aposta de Messias teria sido buscar diretamente o apoio dos senadores, mostrando-se disposto a confrontar decisões impopulares do Supremo. A iniciativa, porém, parece ter atingido o alvo errado: em vez de enfraquecer Gilmar, fortaleceu o cerco do próprio STF contra ele.


Entenda a decisão contestada pela AGU

O pedido de Messias buscava suspender os efeitos da decisão de Gilmar Mendes que estabeleceu que apenas o procurador-geral da República, atualmente Paulo Gonet, pode apresentar denúncia com o objetivo de abrir processo de impeachment contra ministros do STF.

A decisão de Gilmar foi vista como uma blindagem adicional aos magistrados, retirando de cidadãos e parlamentares instrumentos anteriormente disponíveis. O Senado reagiu duramente: Davi Alcolumbre divulgou nota oficial exigindo “respeito” por parte do Supremo e aventou a possibilidade de alterar a Constituição caso considere que as prerrogativas da Casa estão sendo violadas.

Nesse contexto tenso, Messias entrou com o pedido de reconsideração — mas, ao fazê-lo, acionou um gatilho negativo dentro da Corte. Gilmar Mendes não apenas rejeitou o pedido como reforçou as críticas à atuação política do AGU.


Consequências políticas: Messias isolado

Ministros avaliam que os efeitos do episódio podem ser devastadores para as ambições de Messias. Alguns acreditam que ele terá agora dificuldades maiores para conquistar votos no Senado, exatamente o oposto do que pretendia. O desgaste dentro do STF também torna mais improvável que a Corte aceite seu nome como uma escolha consensual.

Nos corredores do Judiciário e do Legislativo, o clima é de incerteza. A disputa pela próxima vaga no Supremo se intensifica, e a relação entre Poderes segue cada vez mais comprometida. Enquanto isso, o gesto de Messias — que poderia ter sido uma jogada política — acabou sendo visto como um movimento precipitado, mal calculado e, para muitos ministros, francamente imperdoável.

A repercussão deve continuar nos próximos dias, sobretudo porque o Senado e o STF vivem um dos momentos de maior tensão das últimas décadas — e qualquer novo passo pode redefinir a cena política nacional em 2026.

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem